Uma ampla investigação judicial nos Estados Unidos encontrou evidências confiáveis de que cerca de 300 sacerdotes da Igreja Católica cometeram abusos sexuais, com mais de mil menores de idade entre as vítimas. Bispos e outros líderes religiosos na Pensilvânia encobriram os casos durante 70 anos. As vítimas foram persuadidas a não denunciar os abusos à polícia, segundo um relatório emitido nesta terça-feira, dia 14 de agosto, pelo grande júri da Pensilvânia. O júri reuniu-se por dois anos e ouviu depoimentos de vítimas e de bispos. O relatório abrange as dioceses de Allentown, Erie, Greensburg, Harrisburg, Pittsburgh e Scranton. Duas delas — Greensburg e Harrisburg — tentaram anular a investigação no ano passado, mas depois recuaram.
O documento é o mais abrangente, já feito por uma agência governamental nos Estados Unidos sobre abuso sexual infantil na Igreja Católica. Ele cataloga casos terríveis, incluindo o de um padre que violou (estuprou) uma menina no hospital depois de ela ter feito uma cirurgia, além de outro sacerdote que foi autorizado a permanecer no ministério após engravidar uma menina de 17 anos, forjar uma assinatura numa certidão de casamento e depois se divorciar da menina.
“Apesar de algumas reformas institucionais, os líderes individuais da Igreja escaparam da responsabilidade pública”, escreveu o grande júri. “Sacerdotes violavam (estupravam) meninos e meninas, e os homens de Deus que eram responsáveis por eles não apenas não faziam nada, como esconderam tudo. Por décadas.”
O grande júri acrescentou que os integrantes da Igreja mencionados no relatório foram protegidos e alguns até mesmo promovidos.
As vítimas disseram-se aliviadas pelo facto de o procurador geral Josh Shapiro e os seus agentes terem conduzido a investigação, depois que os seus esforços para fazer com que as autoridades da Igreja tomassem providências não levaram a nada.
“Eu tinha ido a dois bispos ao longo de cinco anos, e eles ignoraram e minimizaram as minhas alegações”, disse o padre James Faluszczak, que foi abusado quando criança e testemunhou perante o grande júri. “É exatamente essa gestão de segredos que tem dado cobertura aos predadores”.
Não houve uma avaliação abrangente do alcance total do abuso sexual infantil na Igreja Católica nos Estados Unidos. Pessoas que foram abusadas no país pressionaram por anos o governo para que uma investigação nacional fosse feita, semelhante à da Austrália, onde uma comissão passou quatro anos examinando casos.
Católicos pedem investigações sobre Cardeal
Os católicos pedem investigações independentes sobre os motivos que levaram o Cardeal Theodore McCarrick, ex-arcebispo de Washington, a ascender na hierarquia, apesar das advertências aos seus superiores em Roma de que ele havia molestado seminaristas e jovens padres. O Cardeal McCarrick renunciou em julho após acusações de abuso sexual contra menores, mas desde então padres da diocese de Lincoln, Nebraska, e seminaristas em Boston e em outros lugares acusaram publicamente os seus superiores de fecharem os olhos à sua conduta.
Um em cada quatro moradores da Pensilvânia é católico, e os procuradores têm sido particularmente recetivos às vítimas. Júris anteriores examinaram as dioceses de Filadélfia e Altoona-Johnstown. Já o novo relatório abrange o resto do estado.
Ainda não se sabe, se alguma das evidências descobertas pelo relatório pode levar a acusações criminais. A legislatura estadual da Pensilvânia até agora resistiu aos apelos para suspender o estatuto que impediu as vítimas na infância de abrirem processos civis contra a Igreja depois de completarem 30 anos. Para muitas delas, foram décadas até ganhar coragem para falar sobre o abuso que sofreram.
A Igreja fez lobby contra qualquer mudança no estatuto, sob a liderança do bispo Ronald W. Gainer, de Harrisburg, presidente da Conferência Católica da Pensilvânia. Mas as vítimas e os seus defensores dizem que, em setembro, devem iniciar uma nova campanha para pressionar os legisladores e Gainer a abandonarem a sua oposição.
“Se isso não iniciar um debate sério sobre a eliminação do estatuto de limitação, há algo seriamente errado com os meus colegas da Pensilvânia”, disse Shaun Dougherty, hoje com 48 anos, que testemunhou perante o grande júri de Altoona-Johnstown sobre os abusos que sofreu dos 10 aos 13 anos de idade.
Vítima que testemunhou tentou-se suicidar
As dioceses de Allentown, Greensburg, Pittsburgh e Scranton prometeram divulgar, depois que o relatório do grande júri foi publicado, os nomes de todos os padres de suas dioceses que são acusados de abusar sexualmente de menores. As dioceses de Erie e Harrisburg já publicaram listas nos seus sites. O bispo Gainer, de Harrisburg, recentemente ordenou que os nomes dos acusados de abuso fossem retirados de todos os edifícios da Igreja na diocese.
O relatório informa que uma das vítimas que testemunhou perante o grande júri tentou cometer suicídio enquanto o tribunal estava deliberando. “De sua cama no hospital, ela pediu uma coisa”, diz o texto, “que terminemos o nosso trabalho e digamos ao mundo o que realmente aconteceu”.
“Tem havido outros relatórios sobre abuso sexual de crianças dentro da Igreja católica”, lê-se no relatório. “Mas nunca nesta escala. Para muitos de nós, estas primeiras histórias passaram-se noutro local, bastante longe. Agora sabemos a verdade: aconteceu em todo o lado.”
artigo na comunicação social tradicional:
https://oglobo.globo.com/sociedade/investigacao-acusa-300-padres-de-pedofilia-nos-eua-com-mais-de-mil-vitimas-22978144 https://www.publico.pt/2018/08/14/mundo/noticia/abuso-sexual-igreja-catolica-pensilvania-1841103 exame.abril.com.br/mundo/eua-relatorio-aponta-300-padres-abusadores-e-mais-de-mil-criancas-vitimas/ https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/investigacao-nos-eua-acusa-300-padres-de-pedofilia-e-identifica-mais-de-mil-vitimas
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